Absentismo
A Gestão de
Recursos Humanos (GRH) passa atualmente pela definição da sua própria
identidade e capacidade de diferenciação face aos demais, conciliando todas as
práticas que unem os seus colaboradores em torno de objetivos comuns e de
estratégias de longo prazo, onde questões como a adequação destes princípios à
cultura organizacional surgem como condições elementares para o sucesso (Neff
& Citrin, 2006). Sendo assim, o planeamento de recursos humanos tem por
objetivo definir o número de pessoas e as competências necessárias para atender
às necessidades do negócio a médio/longo prazo (Armstrong & Taylor, 2014).
Os mesmos
autores referem que o planeamento de recursos humanos deverá ser definido em
sintonia com os interesses da organização e o desenvolvimento individual dos
colaboradores. Para este processo, estão definidas um conjunto de main tasks que
se centram na análise de necessidades de recursos humanos: análise da pirâmide
etária, absentismo, turnover, recrutamento,
entre outras.
É
inquestionável que uma elevada taxa de absentismo acarreta custos elevadíssimos
para cada organização, seja através de custos diretos e/ou indiretos, e poderão
levantar uma série de dúvidas acerca dos motivos que desencadeiam estas mesmas
ausências. Ao Departamento de Recursos Humanos cabe a importante tarefa de
estudar estes fenómenos e de desenvolver programas personalizados que promovam
esta redução, sendo necessário o importante contributo da Administração e uma
correta comunicação a toda a empresa (Bierlaa, Huverb, & Richard, 2013).
O conceito de absentismo
O conceito
de absentismo tem estado presente no mercado laboral ao longo dos séculos e em
Portugal, foi efetuado um estudo em 1979 sobre esta temática, onde eram
evidenciadas conclusões que demostravam que alguns trabalhadores se ausentavam
ao trabalho sem razão aparente. (Miguez, 1979). O mesmo autor refere que as
ausências podem ser divididas em dois grupos:
- Ausências inevitáveis;
- Ausências evitáveis ou
voluntárias.
Atualmente,
podemos identificar o absentismo como sendo “um período específico durante o qual o
trabalhador não se apresenta fisicamente no seu local de trabalho previsto,
quando deveria lá estar, apesar dos motivos que ele evoque para justificar a
sua falta de presença” (Alis, Horts, Chevalier, Fabi, &
Peretti, 2012, pp. 891-892). Neste sentido, o absentismo representa toda a
ausência de um indivíduo ao seu posto de trabalho, nas horas que correspondem a
um dia de trabalho, dentro da jornada de trabalho, sendo excluídas as férias e
os feriados.
Podemos
igualmente considerar o absentismo como um fenómeno sociológico, relacionado
com a atitude do indivíduo e da sociedade perante o trabalho. Associado a
níveis elevados de absentismo podemos ter uma série de fatores que deterioram a
relação entre trabalhador e organização, nomeadamente a estagnação da carreira,
a existência de tarefas monótonas e repetitivas, baixo salário e falta de
reconhecimento.
Com efeito
contrário, associados a uma redução na taxa de absentismo poderão estar algumas
práticas positivas e adequadas, tais como a integração, a existência de
prémios, a progressão na carreira, entre outros (Agapito & de Sousa, 2010).
Atualmente,
a redução do absentismo surge como um desafio com que muitas empresas se
deparam diariamente, com reflexos na produtividade e consequentemente nos
resultados do negócio. Em Portugal, de acordo com o artigo 248º do código
do trabalho da lei 7/2009, o absentismo está evidenciado através da noção de
falta, na qual “considera-se falta a ausência
de trabalhador do local em que devia desempenhar a actividade durante o período
normal de trabalho diário”.
Exemplos de fatores que influenciam o absentismo
Contexto Socioeconómico
Segundo
Johansson e Palme (1996), existe uma relação direta entre o contexto
socioeconómico e o absentismo, no sentido em que quando um país atravessa um
momento de instabilidade e a taxa de desemprego aumenta, a taxa de absentismo
tende a ser inferior.
Exposição ao risco
Trabalhadores
que exerçam funções ao qual estejam expostos a riscos mais elevados, tendem a
ter uma maior taxa de ausência ao trabalho, pois tenderão a minimizar o tempo
de exposição a esses mesmos riscos. Em segundo lugar, também têm uma maior
probabilidade de estar ausentes devido a doenças ou lesões relacionadas com a
atividade que exercem (Johansson & Palme, 1996).
Controlo no local de trabalho
Também
conforme o já referido autor, Johansson e Palme (1996), o empregador pode
influenciar o nível de ausência dos colaboradores através de um maior controlo
sobre estes. No entanto, alguns postos de trabalho são por natureza muito
difíceis de monitorizar. Existem autores que indicam que devido à dificuldade
de monitorização, preferem pagar salários mais elevados do que o salário do
mercado para induzir os colaboradores a não se ausentarem do trabalho. Assim,
através de uma maior monitorização dos colaboradores pode-se pagar remunerações
mais baixas e ao mesmo tempo obter uma menor ausência ao trabalho.
Género
Na maioria
das famílias, como as mulheres têm maior responsabilidade sob a educação dos
filhos e tendem a acompanhar mais de perto as questões relacionadas com saúde e
parentalidade, este facto pode afetar uma maior ausência ao trabalho face ao
género masculino (Johansson & Palme, 1996).
Satisfação profissional
Pode-se
definir como satisfação profissional a atitude do indivíduo sobre o seu
trabalho, sendo expressa na diferença entre a quantidade de recompensas que
recebe e a quantidade que acredita que deveria receber (Agapito & de Sousa,
2010).
Os mesmos
autores identificam a existência de uma relação consistente entre a satisfação
profissional e o absentismo, sendo percecionada através das condições de
trabalho – remuneratórias, contextuais, entre outras
Práticas de gestão na organização
Alguns
estudos têm mostrado que os estilos de gestão têm impacto sobre o absentismo.
Pesquisas recentes destacam a existência de três principais fatores: o estilo
de liderança, os sistemas de recompensa e a perspetiva de progressão (Damart
& Kletz, 2016).
Nível de exigência profissional
É possível
identificar a existência de uma relação entre absentismo e as condições de
trabalho. O aumento das exigências de trabalho e a diminuição dos recursos
desencadeiam o "esgotamento" entre os colaboradores, aumentando a
duração e a frequência de potenciais ausências (Damart & Kletz, 2016).
Bibliografia:
·
Agapito, S.
M., & Sousa, F. C. (2010). A influência da satisfação profissional no
absentismo laboral. Revista Portuguesa de Saúde Pública, 132-139.
·
Alis, D.,
Horts, C.-H. B., Chevalier, F., Fabi, B., & Peretti, J.-M. (2012). Gestão dos recursos humanos.
Uma abordagem internacional. Lisboa: Edições Piaget.
·
Armstrong,
M. (2016). Armstrong's handbook of
management and leadership for HR. London: Kogan Page Limited.
·
Armstrong,
M., & Taylor, S. (2014). Armstrong's handbook of human resource
management practice . London: Kogan Page Limited.
·
Bierlaa, I.,
Huverb, B., & Richard, S. (2013). New evidence on absenteeism and
presenteeism. The International Journal of Human Resource Management, 24,
1536–1550.
·
Camara, P.,
Guerra, P., & Rodrigues, J. (2016). Humanotor XXI. Recursos humanos e sucesso
empresarial (7ª Edição ed.). Alfragide: Publicações Dom
Quixote.
·
Damart, S.,
& Kletz, F. (2016). When the management of nurse absenteeism becomes a
cause of absenteeism: a study based on a comparison of two health care
facilities. Journal of Nursing Management, 4-11.
·
Johansson,
P., & Palme, M. (1996). Do economic incentives affect work absence?
Empirical evidence using Swedish micro data. Journal of Public Economics,
195-218.
·
Miguez, J.
(1979). Absentismo: conceito, métodos de análise. Análise Psicológica,
415-420.
·
Neff, T. J.,
& Citrin, J. M. (2006). Sou director e agora? O plano para os
primeiros cem dias numa função de liderança. (2ª Edição ed.).
Lisboa: Actual Editora.
·
Reis, G. G.,
& Azevedo, M. C. (2015). Relações entre autenticidade e cultura
organizacional. Revista de Administração Mackenzie, 48-70.
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